Ao escrever isso, parece que o assunto está um pouco pessoal demais, já que também sou irmã do meio. Quero deixar claro desde o início que não estou escrevendo isso para me vitimizar ou me fazer de coitadinha, mas sim para mostrar um pouco do padrão entre as personagens que vou abordar.
É comum assistir a filmes, séries ou desenhos em que há famílias e perceber padrões semelhantes entre os personagens. Sempre tem o bobo, o burro, a bonita e a negligenciada. Às vezes, alguns podem ser duas coisas ao mesmo tempo, como a bonita e burra da família. Hoje, no entanto, vou falar sobre as irmãs do meio e como elas são retratadas em algumas séries.
A Dor Invisível de Ser Uma Irmã do Meio
Alex Dunphy, Modern Family (2009)
Alex Dunphy, Natalie Berzatto e Sarah Cameron têm algo em comum: todas são irmãs do meio. Ao investigar um pouco mais sobre cada uma delas, é possível encontrar muito mais do que essa simples semelhança.
Nas séries, geralmente vemos uma configuração familiar bem estruturada: a irmã mais velha, bonita; o irmão do meio, inteligente e meio esquecido; e a irmã mais nova, boba e criativa. Dependendo da série, a configuração pode variar – um irmão mais velho, a irmã do meio e a mais nova. Às vezes, há três irmãs, dois irmãos e uma irmã. Isso varia de série para série, mas o que permanece constante é a personalidade das irmãs ou irmãos do meio.
Sarah Cameron, Outer Banks (2020)
As irmãs do meio costumam ser retratadas como personagens inteligentes, maduras e bem resolvidas. Elas sabem o que querem e provavelmente sabem como conquistar ou, pelo menos, como buscar seus objetivos. São personagens que frequentemente conseguem sair de qualquer situação utilizando a razão e sendo a voz da sensatez. Elas pensam nos outros – seja a família ou os amigos – e priorizam seus relacionamentos. Consideram como as pessoas ao seu redor se sentem e como as situações podem afetá-las. São personagens extremamente interessantes, exceto para suas famílias. O que essas três têm em comum? Todas são negligenciadas por seus familiares. Claro que não vou generalizar e dizer que todas são tratadas da mesma maneira, pois isso não é verdade. Alex Dunphy e Sarah Cameron, por exemplo, são bem diferentes uma da outra. Enquanto Sarah Cameron é a filha preferida de seu pai (no início), Alex Dunphy vive o oposto.
Ambas, no entanto, não têm seus sentimentos reconhecidos.
Se você já assistiu a alguma dessas séries, sabe do que estou falando. É curioso perceber que essa figura da irmã do meio se tornou um padrão na cultura pop. Essas personagens costumam ser aquelas com as quais os espectadores se identificam, aquelas que fazem com que você se sinta mais compreendido, mais visto, mesmo que você não seja uma irmã ou irmão do meio. São personagens profundas, com ações justificáveis, sentimentos reais e problemas com os quais é fácil se relacionar. É comum assistir “Modern Family” e perceber a solidão de Alex, ver “The Bear” e se emocionar ao ver Natalie dizer a mãe que ficou doente para poder ser vista por ela, ou assistir “Outer Banks” e perceber que o pai de Sarah para de tratá-la como a “princesinha” depois que ela deixa de ser a “filha perfeita”.
“Ela vai ficar bem!”
Elas não são a primeira opção, não são levadas em consideração e muito menos devidamente apreciadas.
Natalie Berzatto “Sugar”, The Bear (2022)
Em “Modern Family”, embora eu adore a família Dunphy e aprecie muito esse núcleo, me dói ver como a personagem Alex é sempre negligenciada. Como, por exemplo, em um episódio, quando ela está exausta, batendo nas paredes como um robô, e seus pais, ao perceberem a situação, dizem: “Ela vai ficar bem”. Como ela é a filha inteligente, supõe-se que ela saiba se virar e resolver seus próprios problemas, mesmo que, no início da série, ela ainda seja apenas uma criança.
Em “The Bear”, ao entendermos melhor a família Berzatto, podemos notar a falta de atenção que Natalie recebe e como todos parecem focar em uma única pessoa: Carmy. Não vou ser injusta e dizer que a culpa é dele, porque, assim como Natalie, ele também é uma vítima de uma família disfuncional e caótica. Ele não quer ser o centro das atenções, mas isso é o que acaba acontecendo. As pessoas não notam a importância de Natalie e, o pior, não se importam com o que ela sente.
Em “Outer Banks”, quando vemos Sarah deixar de ser a filha perfeita e se tornar uma Pogue, o mundo dela muda completamente. Ela já não é mais a mesma pessoa de antes e, por isso, não tem o mesmo valor, nem a mesma importância.
É doloroso ser negligenciada
É extremamente doloroso ver como essas personagens são ignoradas pela própria família e como as pessoas não conseguem compreendê-las. Elas nunca são prioridade para os outros, mas é triste perceber como sempre priorizam os outros em vez de si mesmas. Também é interessante notar um padrão em que a figura da irmã do meio costuma estar associada a uma pessoa sozinha. Isso é algo que ocorre em muitos casos e que os espectadores podem se identificar ao assistir uma série ou filme. No entanto, é triste ver que as referências sobre irmãs do meio muitas vezes mostram personagens sofrendo por não serem a irmã mais velha ou a mais nova, por não serem aquelas que as pessoas buscam.
Irmãos do meio são frequentemente esquecidos, vivendo na sombra dos mais velhos e não sendo tão especiais como os mais novos.
Eu me sinto meio sozinha – Alex Dunphy
Esse lugar de “não ser a prioridade” pode gerar uma sensação constante de invisibilidade. Alex, Natalie e Sarah, em suas respectivas séries, nos mostram como o papel de intermediária, embora carregue muitas qualidades e habilidades, frequentemente não é valorizado.
Essa sensação de ser “invisível” pode ser ampliada para a vida real. Muitas vezes, as irmãs do meio podem sentir que estão apenas cumprindo a função de mediadoras ou de “resposta pronta”, sem o mesmo reconhecimento que os outros membros da família. Isso não significa que elas não recebam amor ou carinho, mas que, na correria do dia a dia, muitas vezes elas são os pilares sobre os quais todos se apoiam, sem perceberem que também precisam de apoio, de escuta e de validação.
Em um mundo onde a atenção é geralmente dividida, as irmãs do meio podem se sentir esquecidas e desvalorizadas em comparação aos outros irmãos.
Além disso, o fato de ser a irmã do meio não é apenas uma questão de dinâmica familiar, mas também de expectativas sociais. A sociedade frequentemente coloca sobre quem ocupa esse papel a expectativa de ser compreensiva, resolutiva e prática, quando, na realidade, elas também têm o direito de expressar suas frustrações e necessidades.
É importante refletir sobre isso, não apenas para criar uma identificação com as personagens, mas também para promover uma maior compreensão sobre a realidade das famílias e o impacto das dinâmicas entre os irmãos.
Não é fácil ser irmã do meio, mas também não é fácil fazer parte de uma família.
Espero que tenham gostado do tema e que ele tenha feito vocês pensarem um pouco sobre. Se você tem algo a dizer sobre o assunto ou alguma sugestão do que gostaria de ver por aqui, deixe um comentário!
Obrigada por ler e até a próxima 💕